Esta semana questionei-me sobre o “valor sentimental” das
coisas que temos.
Talvez porque fui obrigado a abrir as caixas onde empacotei os
nossos pertences aquando desta ultima mudança de casa…
Há coisas que me acompanham por cerca de 40 anos,
simplesmente por causa do seu valor sentimental:
1.
Um Barco
de Pesca – ainda me consigo lembrar daquela loja numa das ruas de Faro,
onde namorei este barco vezes sem conta, até que os meus pais pagaram 1000
escudos, uma autêntica fortuna para a época, para que esta embarcação que nunca
viu água, pudesse estar na minha companhia. Ainda hoje está no meu escritório.
Não me consigo libertar dela…
2.
Uma Mota
Kawasaki 1000 – nunca brinquei
com ela com medo de a partir ou estragar. Mantive-a numa redoma apenas para
contemplação, talvez à espera de um filho varão que pudesse brincar com ela. Quis
Deus que eu só tivesse raparigas, e nenhuma delas quis ter carta de mota! Nunca
a dei a nenhuma criança por causa do seu “valor sentimental”…
3.
Um Candeeiro
de Madeira - feito na aula de Trabalhos Manuais (1975) – usei-o como
candeeiro de mesa de cabeceira durante os restantes anos da minha adolescência e
juventude. Já mudou 3 vezes de casa sem nunca ter sido utilizado. É apenas uma
luz apagada, que nunca ofereci na esperança de um dia voltar a vê-la funcionar…
4.
Um
Novo Testamento – o meu primeiro (1975). Talvez porque foi nele que
descobri muitas das palavras que hoje sei… talvez por dizer Este Novo Testamento pertence ao menino
Alberto Jorge…”
Coisas que me acompanham por causa do seu valor sentimental!
O que é isto do valor sentimental? Quanto vale? Como se calcula? Se tentasse
colocar qualquer um desses objectos à vendo no eBay certamente não teria nenhuma licitação para compra, o que
significa que o valor sentimental só existe para uma pessoa – eu próprio, logo
não pode ser referência no mercado de transacções.
Depois penso no valor utilitário destes objectos, ou seja,
que utilidade teriam eles, se estivessem nas mãos de outras pessoas? Dois
brinquedos fariam duas crianças felizes por algum tempo, enquanto o barco e a
mota conseguissem permanecer numa peça só… não tanto tempo quanto aquele que eu
dediquei a contemplá-los para minha felicidade natural. Um candeeiro iluminaria
as noites de alguém que não tem candeeiro… mas existirá alguém neste mundo que tendo
energia eléctrica não tem uma lâmpada para se iluminar? Fará isto realmente
falta a alguém, ou não será esta uma peça que nas mãos de outrem rapidamente
ganhará o desprezo e acabará reduzido a lenha para uma fogueira?...
O grande dilema chega quando penso no 4º objecto – o meu
primeiro Novo Testamento! É que não existem dúvidas quanto ao seu valor
sentimental, dado provavelmente o facto de que parte do que sou, devo à leitura
que fiz neste pequeno livro. Certamente foi neste livro que aprendi quem era
Deus e quem era Jesus. Foi nele que comecei a descobrir aquilo que mais tarde
viriam a ser os meus valores de vida. Não há dúvida que este Novo Testamento
impresso há exactamente 40 anos e em meu poder desde o dia 24 de Março de 1975,
tem um incalculável valor sentimental. Quero guardá-lo para sempre…
Mas… e quanto ao seu valor espiritual? Este livro é a
Palavra de Deus! E a Bíblia diz que a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hebreus 4:12) e que o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que
crê (Romanos 1:16).
Aqui vem o dilema… o que é que eu valorizo mais neste objecto –
o seu valor sentimental ou o seu valor espiritual? Que utilidade terá ele
noutras mãos? Nas minhas continuará a ser um livro de recordações, cheio de
significado, que me fará lembrar a minha própria pessoa e o inicio da minha
caminhada com Deus. Mas nas mãos de outros… não posso garantir… apenas sei do
Seu poder, e da sua capacidade de mudar vidas.
Se existe a pequenina probabilidade de este livro vir a ser
lido por alguém cuja vida poderá ser transformada pela sua leitura, eu não
quero impedi-lo por causa das minhas recordações pessoais.
Na verdade, o seu valor
espiritual é muito superior ao seu valor sentimental.
Dos 4 objectos que guardo por quase 4 décadas, este vai ser
o primeiro a despedir-se para que possa ainda ser “lâmpada para os pés, e luz para o caminho” (Salmo 119:105) de alguém.
E você, já tinha pensado nisso?